segunda-feira, 23 de junho de 2008

Curioso


A maioria dos meus amigos não entra em êxtase quando chegam os saldos. Os meus amigos não deliram com o teatro. Os meus amigos não vibram com a feira do livro e os seus preços reduzidos. Os meus amigos até gostam de cinema, só não gostam do mesmo cinema que eu. A maioria dos meus amigos não ouve a mesma música que eu. A maioria dos meus amigos não tem os mesmos interesses que eu. A maioria dos meus amigos não vê a vida como eu.

Mas quando nos juntamos a festa é imediata e conseguimos falar cada um das suas coisas e da sua vida enquanto os outros escutam com interesse sincero por coisas que até nos podem não dizer nada pessoalmente.

E podia ser por isto que eu gosto deles.

Mala Aberta


Já tenho uma mala aberta,já lá pus umas calças e três camisolas.É oficial,vou-me mesmo embora no domingo!Quando vim para cá estava com medo…uma vida nova,um país novo com uma língua nova também apesar de tudo,sem amigos,apenas uma amiga,objectivos para cumprir,uma cabeça para acabar de pôr no sítio.Tudo correu bem,não espectacularmente bem,mas bem.Aprendi muito sobre mim,sobre os meus limites e aquilo que sou capaz de fazer.Hoje estou muito mais seguro de mim,muito mais capaz de ir atrás de aquilo que quero,seja em que área pessoal for,sem me pôr a pensar que se calhar não o mereço!Agora é tempo de voltar,não sei se é a melhor decisão,mas foi a decisão tomada e não ficar a pensar no que poderia ter sido,a vida acontece em qualquer lugar.Para trás fica tanta coisa,tanta coisa que pela primeira vez em muito tempo,nos últimos meses,senti dores de crescimento!Espera-me o meu Portugal,as minhas cidades,os meus amigos,a minha família.Estou ansioso e cheio de saudades de tudo,apesar de saber que daqui a umas duas semanas vou ter vontade de voltar outra vez para aqui.Penso mesmo que a vida desta cidade tem muito mais a ver comigo.Nenhuma porta fica fechada,tudo pode acontecer.E agora estou outra vez com um certo medo…do que me pode esperar…do que pode acontecer…mas estou seguro de mim e não estou assustado.

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Viva a Normalização!!!?...


"Little boxes on the hillside,
Little boxes made of ticky tacky
Little boxes on the hillside,
Little boxes all the same,
Theres a pink one & a green one
And a blue one & a yellow one
And they are all made out of ticky tacky
And they all look just the same.

And the people in the houses
All went to the university
Where they were put in boxes
And they came out all the same
And theres doctors & lawyers
And business executives
And they are all made out of ticky tacky
And they all look just the same.

And they all play on the golf course
And drink their martinis dry
And they all have pretty children
And the children go to school,
And the children go to summer camp
And then to the university
Where they´re put in boxes
And they come out all the same.

And the boys go into business
And marry & raise a family
In boxes made of ticky tacky
And they all look just the same,
Theres a pink one & a green one
And a blue one & a yellow one
And they are all made out of ticky tacky
And they all look just the same."

quinta-feira, 5 de junho de 2008

Último Vício

Gilberto

Aqui há tempos conheci o Gilberto. Encontrei-o na rua, sentado num banco de jardim com os seus andrajosos trajes e os seus sacos do lixo. Era claramente um sem abrigo e vi logo que essa pessoa não me interessava… não que seja preconceituoso, mas na verdade, que poderia eu ter em comum com um sem abrigo? Óbvio que nada… Estava há espera da Mariana e sabia que teria de esperar pelo menos mais uns vinte minutos, o mais pequeno dos seus atrasos! Estava cansado e não havia mais nenhum banco nas redondezas, então deixando para trás o meu medo dos maus cheiros daquele mendigo e o medo da possibilidade de que ele metesse conversa comigo, sentei-me na ponta oposta do banco. Relutante acendi um cigarro, sem ter tempo de sequer guardar o maço, Gilberto pediu-me um. Não costumo dar, mas como não estava para o aturar a refilar estiquei-lhe o maço e o isqueiro. Ele agradeceu, eu acenei sem olhar e guardei o maço e o isqueiro. “Já percebi, não conversas comigo…”, disse-me ele. Aí senti-me mal, sempre orgulhoso de não ser preconceituoso e ali estava a esnobar uma pessoa só porque era mendigo. Quis falar com ele, pedir-lhe desculpas, dizer-lhe que não era nada disso, que podia falar se quisesse, mas só me saiu “Inda bem que percebeu!”. Não creditei nas palavras que tinham saído da minha boca, eu não era assim! Gilberto acenou com a cabeça e continuo no seu canto a fumar o meu cigarro. Olhei-o, notava-se na sua expressão impávida, inexpressiva que já se havia habituado áquela resposta de pessoas estúpidas. Ele devia ter uns 45/50 anos, um ar limpo, dentro do possível e uma cara bonita. Fazia-me lembrar uma fotografia do meu bisavô que a minha avó sempre exibia com orgulho quando se falava do seu pai. Achei que estava a ser indelicado e virei o olhar, não o queria ofender. Passados uns incómodos 10 minutos Mariana chegou, cumprimentou-me, olhou Gilberto e disse “Ai pá que nojo de pedintes, estão em todo o lado”, ao que eu respondi “Ya, podes crer”. Ele continuou impávido e isso começou a irritar-me…acrescentei “Vamos embora antes que apanhemos alguma doença” e fomos. Ah, esqueci-me de comentar, isto foi há uns sete anos, hoje moro na terceira caixa multibanco da avenida da Liberdade do lado direito de quem desce, fumo quando me dão cigarros e como quando há comida. Partilho muitas vezes o banco de jardim com Gilberto e somos amigos. Ele não se lembra de mim, pelo menos nunca disse nada e eu também não… Nunca mais vi a Mariana.