sábado, 30 de agosto de 2008

Era,Mas Não Foi...

Adriana lembra-se desse dia como se fosse hoje. Tinha acordado com os primeiros raios de sol que espreitavam através das vidraças da janela do seu quarto. Olhou Rafael, seu marido, deitado a seu lado. Reparando como o amava mais a cada dia que passava, apesar das marcas de uma velhice precoce evidentes no seu corpo. A medo, encosta a sua cabeça ao peito de Rafael e escuta. Sorri, ao ouvir o seu coração bater, agradecida a Deus, por lhe conceder mais um dia com o seu amado.

Levanta-se, vestindo o seu roupão de algodão, branco e ajoelha-se diante do toucador, para rezar a sua oração diária de agradecimento e também de prece, na esperança de um milagre, à Virgem Maria.

Ao sair do quarto, a manga do seu roupão fica presa na maçaneta da porta, dando-lhe um puxão. Ao sentir-se puxada para trás, lembra, como, ainda há pouco tempo ela experienciava tantas vezes essa sensação. Foram muitas as manhãs que, quando vinha do banho, apenas usando aquele mesmo roupão, e acordava Rafael para que ele se levantasse, este a puxava de novo para a cama. Enquanto a ia elogiando, dizendo-lhe que nunca vira mulher mais bonita ou cheirosa, abria-lhe o roupão e beijava-lhe o corpo. Percorrendo cada milímetro do mesmo. Quando já ambos desesperavam de desejo, ela aconchegava-o no meio das suas pernas e faziam amor enquanto se beijavam ardentemente. Com a lembrança, ela sente um arrepio percorre-lhe a espinha, talvez de desejo, mas ao olhá-lo, deitado naquele leito, pensa em como sem pensar duas vezes trocava todo esse conhecimento do prazer pela saúde dele.

Tomou banho e vestiu-se, esperava-a um novo dia, um longo dia. Subiu as escadas, acordou e arranjou os seus filhos, Maria José e Félix. Maria José ou Zézinha (como sempre foi mais conhecida) era a mais velha, com oito anos era uma menina muito bem comportada e muito vaidosa. Félix tinha cinco anos e era um menino que tinha tanto de querido como de traquina, dando por vezes cabo da cabeça de toda a gente lá de casa.

Desceram os três de mãos dadas, directos para a cozinha onde tomaram o pequeno-almoço, previamente preparado por Conceição. A criada de confiança, já com alguns anos de serviço na casa. Com o pequeno-almoço tomado, começa mais uma jornada.

Conceição sai de casa com as crianças, cada qual pendurada em seu braço, para percorrer o longo caminho, metade de paralelos e outra metade de terra batida, que os separava da escola primária feminina. Aí, a Zézinha ficaria entregue e ela voltaria para trás e faria a lida da casa, sempre com Félix atrelado.

Adriana preparou o pequeno-almoço, num tabuleiro, para Rafael e levou-lho à cama. Ele já estava acordado e mal a viu surgir na entrada do quarto sorriu-lhe, com vontade, apesar das dores. Ele não tinha acordado pior, graças a Deus. Trocaram algumas palavras carinhosas, nada de mais e ela deixou-o enquanto levava à boca a torrada barrada com manteiga feita há pouco com tanta dedicação.

Desceu para a loja e abriu as portas, dando de caras com fornecedor do pão que carregava dois caixotes enormes. A sua encomenda habitual. Passado pouco tempo, logo entraram, antes de toda a gente, para poderem escolher os pães mais clarinhos, a “ti” Mari Clara e a “ti” Ana Brites. Ambas levaram um pão e um quilo de arroz. A última levou ainda duzentos gramas de rebuçados, pois ia receber a visita dos netos. Perguntaram por Rafael e saíram.

(...)


E esta é aquela parte em que eu peço encarecidamente ao senhor ladrão que me roubou quase metade da vida, que me devolva o resto desta história...Não sei do que tive mais pena, se das coisas materiais, que ainda foram algumas, ou se de pequenas coisas como esta,se bem que também ainda foram algumas...

Não Foi Hoje,Mas Recordei


Há noites que nos marcam, por várias e diferentes razões, e esta foi uma dessas. Uma noite que tão depressa não vai sair da minha memória…e foi uma noite tão simples…

Para trás já tinha ficado um dia cheio: um acordar cedo custoso, pois tinha tido um jantar de despedida de uma amiga na véspera; uma viagem longa com a Ana em que estávamos a ver que ficávamos sem gasolina em pleno Alentejo…de termos de fazer descidas em ponto morto e tudo…; uma tarde quente e agradável de praia com um final de tarde ainda melhor; a notícia de que alguém não muito desejado vinha ter connosco e um jantar algo atribulado.

Acabámos só os dois.Uma noite fria sem estrelas, um casaco nos braços, uma mesa e duas cadeiras de campismo, uma garrafa de rum e outra de sumo de maracujá, um cigarro e uma conversa. Conversas abertas, sinceras, sem pensarmos muito se devíamos dizer isto ou aquilo, sem pensar no porquê confiar. Fomos simplesmente falando e expondo as nossas vidas, confessando alguns segredos, medos, frustrações e também alegrias. Sei que esta descrição não mostra o especial da noite e pareço até tonto,mas não importa, importa o que eu sei. Foi a terceira vez que estivemos juntos e parecíamos quase amigos de infância. Demos conselhos e suspirámos… Gostava de ter como amiga…

O pior foi mesmo de manhã acordar por causa daquela pita kenga, a MARTA (nunca vou esquecer o nome), que se enganou a comprar o Público e toda a gente decidiu ralhar com a criatura!Que nervos! :)

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Banda Sonora



Banda sonora de um Verão que não vai ser esquecido...

domingo, 24 de agosto de 2008

Para ninguém em especial


Brincar com palavras,

Brincar com letras,

Mexer com sentimentos.

Bater com palavras,

Sofrer e calar.

Quando acabam as letras,

Quando tudo já foi dito,

O passado fica distante,

Perdido, quase esquecido.

Resta o presente,

O merdoso presente…

Anseio pelo futuro

Em que o presente seja passado,

Onde não passes de uma lembrança.

Ter palavras outra vez,

Saber brincar de novo.

Quero-te mal

Quero-te bem

Quero-te fora da minha vida!

Saltar, pular, gritar,

Ser um adolescente apaixonado.

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

ANTI-REPRESSIVOS


Porque não/ Esquecer o coração
Porque não/ Pecar sem ter perdão
Perder toda a razão/ Porque não

Porque não/ Um filme sem guião
Porque não/ Um tema sem refrão
Cantar esta canção/ Porque não

Porque não/ Pular com a mutidão
Porque não/ Sorrir da solidão
Gritar na escuridão/ Porque não

Por aqui, por aí, porque sim
Sem ter aprovação
Sou o normal e sou a loucura
Não me peçam para ter razão

Porque não/ Um mundo e um nação
Porque não/ Sem bomba no Islão
Nem fome no Sudão/ Porque não

Porque não/ Guardar a confisão
Porque não/ Umbigo sem cordão
E Eva ser Adão/ Porque não

Quero mais de ti, quero mais de mim
Quero mais de toda a gente, que todos juntos façam frente
Que os mudos gritem alto que todos façam algo
Que torne o coração mais quente
Convençam o vizinho que ninguém ganha sozinho
Que a batalha é muito dura e será dente por dente.
Comer comida "light" para que a roupa nos assente
O corpo está saudável mas a mente está demente.
Que consciência é esta que finge que não vê.
A fome é bem real e não é só na TV
A esperança nunca morre a não ser para quem não come
A guerra não perturba a não ser a quem não dorme.

*donna maria

A Verdade


“Numa época de universal engano, dizer a verdade constitui um acto revolucionário”

*george orwell

Devaneio

Muito sol e uns óculos de sol,
Música que me faça vibrar,
Um livro que me carregue ao colo,
Alguém para abraçar e rir e
Uma vez por outra afastar-me da realidade num copo de vinho.
Assim já sou feliz :)